O Aqui e o
Agora.
Passamos
pelas coisas sem as habitar, falamos com os outros sem os ouvir, juntamos
informação que nunca chegamos a aprofundar. Tudo transita num galope ruidoso,
veemente e efémero. Na verdade, a velocidade com que vivemos impede-nos de
viver. Uma alternativa será resgatar a nossa relação com o tempo. Por
tentativas, por pequenos passos. Ora isso não acontece sem um abrandamento
interno. Precisamente porque a pressão de decidir é enorme, necessitamos de uma
lentidão que nos proteja das precipitações mecânicas, dos gestos cegamente
compulsivos, das palavras repetidas e banais.
Precisamente porque temos de nos desdobrar e multiplicar, necessitamos de reaprender o aqui e o agora da presença, de reaprender o inteiro, o intacto, o concentrado, o atento e o uno. Mesmo tendo perdido o estatuto nas nossas sociedades modernas e ocidentais, a lentidão continua a ser um antídoto contra a rasura normalizadora. A lentidão ensaia uma fuga ao quadriculado; ousa transcender o meramente funcional e utilitário; escolhe mais vezes conviver com a vida silenciosa; anota os pequenos tráficos de sentido, as trocas de sabor e as suas fascinantes minúcias, o manuseamento diversificado e tão íntimo.
Fonte: Tolentino Mendonça, em ' O Pequeno Caminho das Grandes Perguntas '.
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