Sabemos o
que é um Amor?
Será que sabemos o
que é um amor? T. S. Eliot trabalhou oito anos como empregado bancário no Lloyds,
em Londres. Passava os dias no gabinete subterrâneo que lhe estava atribuído,
sentindo o tempo inteiro os passos dos transeuntes sobre a sua cabeça. Duas
libras esterlinas e dez xelins eram o seu soldo. Cumpria o horário das 9h15 às
17h00 e, numa das primeiras cartas que dali escreveu à mãe, dizia-se feliz por
poder dedicar-se à poesia no tempo restante. Mas, à medida que os anos
passavam, era como se lhe faltasse o ar. Apanhava o comboio para a City,
vestido de escuro, com o guarda-chuva pendurado no braço, o cabelo impecável,
com o risco a meio, enfileirado atrás de uma multidão trajando de maneira
igual.
No livro Terra Devastada deixará este registro: «Cidade irreal / Sob o nevoeiro castanho de uma madrugada de inverno, / Uma multidão fluía sobre a Ponte de Londres, tantos, / Eu não pensava que a morte tivesse destruído tantos.»
O poeta Philip Larkin
trabalhou como bibliotecário praticamente toda a vida, pois percebeu que não
conseguiria subsistir apenas da escrita, por muito que o desejasse. Depois da
jornada laboral permanecia em casa, evitando saídas que o dispersassem.
Jantava, lavava a louça e punha-se a escrever.
Será que sabemos o que é um amor?
Fonte: Tolentino Mendonça, in 'O Pequeno Caminho das Grandes Perguntas'
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